O relógio marca 22.30. É a hora do chá quente antes de adormecer. Agarro a chávena com as duas mãos para aquece-las, já que estas mãos nunca aquecem. Bebo um golo deste chá. É de jasmim. Sinto o perfume deste e lembro-me de bons momentos passados. Enquanto pouso a chávena na mesa sem tirar as mãos desta lembro-me de todas as palavras amorosas que me dizes. São sempre tão calorosas, tão meigas. Inclino-me para a frente e sinto o vapor a percorrer a minha cara e comparo com cada respirar teu perto do meu corpo. Quente e suave é este vapor tal como a tua respiração. Bebo novamente deste chá. O calor percorre pela minha garganta e sinto a descer até ao estômago, aquecendo-me o corpo todo, tal como tu, quando me agarras quando tenho aqueles arrepios de frio. Volto a pousar a chávena do chá e pego na colher para mexer até arrefecer um pouco, enquanto a minha alma voa. Voa para a Terra do Nunca. Mas não voa sozinha, voa sempre contigo. Penso nos momentos que já vivemos e que ainda temos para viver e sorri-o enquanto agito a colher para arrefecer. Enquanto agito a colher olho para todos os lados: o cão dorme, os pais conversam, a televisão funciona, e a minha alma voa. Paro de mexer com a colher, meto-a à boca para as gotas não caírem. O vapor do chá parou e já arrefeceu. Fecho os olhos, bebo todo este chá, ouço a música e a alma voa até ao infinito.

"Just one touch and I'm on fire

One touch and I'm crying"